Sou sempre inteira, mas nem sempre me traduzo completamente para a linguagem corrente.
Não que não queira ser lida.
Não que me importe aparecer transparente.
Não que queira ser altiva ou, propositadamente, diferente.
Pelo contrário.
A batalha comigo trava-se dentro mim própria e o leito onde jazem os argumentos derrotados é um ringue de difícil saída.
É que é nas gavetas, que se escondem por dentro daquelas portas de vidro que guardam o comum e vulgar dos dias, que se sentam os meus fantasmas, tão educados e persistentemente presentes.
E é precisamente nos dias banais que, como um carro mal arrumado ou uma nota fora do tom, saem dos seus aposentos e se apresentam, em formação, marchando sobre o meu corpo.
É então que procuro guarida na escrita e passo outro dia completo a estudar táticas e movimentos, na esperança de ganhar a guerra que, resguardadamente, se debate em e sobre mim.
Um dia, ou dois, ou três, conforme a sapi(paci)ência dos outros de ler o tanto que, nas entrelinhas, escrevo.
É que, só mesmo assim me sei explicar.
Lili