Um instante de distracção e o barulho a ecoar dentro de mim, abalando a calma, a pouca, que hoje em dia consigo, a custo, embalar. Olho para dentro e rodo as maçanetas da porta que não me ajuda a conter a areia que enche a ampulheta e se espalha pêlo chão.
Escorrego num sonho mal arrumado e baralho as cartas passadas com os jogos de faz de conta do dia-a-dia.
Sento-me e vejo ao fundo o Tejo, que galga a cidade e desagua a meus pés, molhando a areia e afundando qualquer promessa de normalidade.
A realidade força a entrada através dos meus sentidos. Sei que não a consigo absorver, apaziguar, iludir.
Levanto-me numa tranquilidade inventada e arrumo as cadeiras, recolho as tintas e guardo os trabalhos enquanto, olhando para dentro, lhe viro as costas.
Liliana Lima