De quando estendes a mão à procura da calma que não volta na palma vazia
De quando te foge o chão, e as paredes rodam à tua volta como slides envelhecidos e desconexos
De quando os gritos te assustam e te ferem, num loop de memórias escondidas debaixo do tapete
De quando o silêncio te invade, como a maré que revolve a areia e desenterra as conchas e arranca as algas
De quando o calor que te falta enregela a cama e arrefece os lençóis e te esvazia as emoções
De quando te foge o chão e os fantasmas, fechados nas arcas, se soltam numa dança de bruxas
De quando te sentes afundar em ti, e por momentos te perdes no poço onde moram os medos
De quando precisas duma palavra, abraço, duma palavra, mão, duma palavra, carinho , e te falta a voz para as pedires
De quando te foge o chão e, de repente escuro, de repente longe, de repente só, não o consegues agarrar
De quando te foge a paz, e "num segundo se envolam muitos anos"(*).
Liliana Lima
" E por vezes”
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes
ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos
David Mourão-Ferreira