Como foi que parti o relógio, ficando perdida nas horas descompassadas?
Porque foi que me perdi do caminho amarelo que trazia no mapa?
Ajuda-me a passar por cima do remoinho onde me vejo afogar.
Ajuda-me a não me ferir nas arestas que, afinal, sempre aqui estiveram.
Ajuda-me a olhar o horizonte evitando enfrentar o Sol.
Ajuda-me a pintar o mar sem deixar entrar, à força, a maré.
Ajuda-me a avançar sem carregar o peso das certezas antigas.
Ajuda-me a sorrir para o espelho sem lhe ver o que não quer mostrar.
Ajuda-me a dizer de mim, para não me amordaçar.
Ajuda-me a estar sem este peso apertado, este aperto pesado.
Ajuda-me a afastar esta zanga, de querer ao nunca chegar.
Ajuda-me a sorrir
Ajuda-me a cantar
Ajuda-me a ver
Ajuda-me a sentir
Ajuda-me a dançar
Ajuda-me a ser
Sem sombras
Nem medos
Sem fantasmas
Nem medos
Sem entrelinhas
Nem medos
Sem mágoas
Nem medos
Ajuda-me, sem medo.
Liliana