Nem sempre é claro o dia que nasce na janela do meu quarto
Nem sempre é claro
Nem sempre me vejo inteira no reflexo matinal do espelho húmido da casa-de-banho
Nem sempre me vejo
Quando saio com o miúdo pela mão, correndo contra os ponteiros do relógio, nem sempre reconheço os meus passos no chão da calçada por entre o jardim
Nem sempre reconheço
E mais tarde, novamente apressada, novamente atrasada, nem sempre me sinto completa na agenda que a tarde preparou para mim
Nem sempre me sinto
Quando o vento está de feição e a maré permite o atracar no cais, procuro no rio a verdade de cada momento, traduzida na imagem que me devolve do mundo que eu, assim à primeira vista, não consigo entender
Com a cidade às costas e o tempo contado, medido, repartido, tão mais pelas obrigações do que pelas paixões, peço ao Tejo que me diga do sentido do dia que passa
Mas as águas, ainda que mansas, nem sempre espelham as respostas que procuro
Nem sempre espelham
Liliana