Levantas-te de nós e chamas-me para dentro
Algo se perde na passagem para o quarto
Algo fica por sentir no sofá que deixo a olhar para a televisão acesa
Algo se apaga no corredor que percorro, sozinha, até ti
Entro descalça no quarto onde a cama, há muito, me trata por tu
Os lençóis, contigo por baixo, conhecem de cor o meu cheiro
E o livro que lês por cima da almofada está gasto de tanto o folhearmos
Num remoinho de sentimentos dispo-me, sozinha, para ti
Deito-me ao teu lado e procuro por mim nas palavras que lês
Falta algo neste quarto para que seja nosso
Falta a magia dos olhos e a sensualidade das vontades
Procuras-me debaixo dos lençóis e puxas-me para ti
A tua mão encontra o meu corpo e pergunta-lhe por mim
Nunca consegui congelar o calor do teu corpo no meu
Sorris para mim num beijo quente
os passos perdidos a perder importância
Embalas-me numa dança de roda
as sensações que balançam em mim
Desenhas-me o corpo com a ponta dos dedos
o calor a inundar os corpos e a acender
as vontades
as vontades
A cama e a almofada macia, abafam os gemidos que cortam a noite
E a torneira ao fundo, marca o ritmo das ondas
ora rápido como uma cascata, ora calmo como a chuva de outono
Os braços e as pernas confundem-se por entre os lençóis
E eu esqueço-me para me reencontrar em ti dentro de mim
Os nadas que partilhamos e o livro que relemos esperam à porta
As roupas espalham-se no chão como as migalhas de Hänsel
E as palavras apagam-se por não serem necessárias
Enrosco-me no teu abraço e não deixo que nada interrompa o nada que partilhamos
Liliana