domingo, outubro 04, 2015

GaiVoTa

Olho para ti com os olhos cheios de Tejo. A manhã demora-se sobre o rio, levantando lentamente o lençol de névoa que o protegeu da noite anterior.

Sentas-te à minha frente, longe demais para a minha mão chegar à tua, e sorris-me um mundo de significados que tento descodificar, ordenar e compreender. É tão difícil ter a certeza de te saber...

Perco-me na dança duma gaivota com as pessoas que passam, e imagino-me no seu lugar. Deixa que se aproximem, que se cheguem a ela, mantendo sempre uma distância mínima de segurança. Assim sou eu, gaivota poisada à beira Tejo, saltitando a cada movimento mais próximo. 

E no entanto tu, longe demais para a minha mão te chegar, mas invadindo o meu mundo a cada olhar. 
E no entanto eu, gaivota poisada à beira-rio, deixando cair as fronteiras a cada aproximação do teu sorriso.

Olho para ti com os olhos cheios de tudo quanto trago para te dizer mas que se prende na ondulação, mansa, da maré. O lençol esfumou-se devagar, rasgado aqui e ali pelo passar suave dum veleiro, deixando o Tejo a descoberto.

Levantas-te da minha frente com um mundo cheio de significados no teu sorriso. Aproximas-te e estendes-me a mão, é tão difícil agarrá-la sem escolher os que melhor rimam com o azul do rio...

Liliana