Esta pele que me contém cheira a ti.
Aconchego-me dentro dela e sinto-te envolver todo o meu espaço.
Procuro-te em mim, nas marcas que pintaste no meu corpo, no calor com que me embrulhaste no teu abraço, no gesto impensado com que passo a mão no meu cabelo à procura do macio do teu.
Estas cores que despontam à minha volta, pintam uma aguarela de ti.
O sol matinal e a lua ao entardecer, contam-me das tuas sombras e do recorte do teu corpo quando olhas o horizonte.
O céu, azul, reflectido em flashes na ondulação do rio, traz-te numa brisa suave e as flores sorriem com o mesmo brilho dos teus olhos e o mar invade o horizonte com a mesma cadência com que me invades a mim.
Esta palavra que me pede para ser dita, fala de ti.
Enrola-se-me na língua e perde-se no meu corpo, espalhando as letras num remoinho interno.
Solto-a momentânea e cuidadosamente, quase em surdina, na mesa de cabeceira no instante em que me entrego a ti e embrulho-a com todo o carinho na valsa desenfreada dos dias que correm sem ti.
Esta pele,
Estas cores,
Esta palavra,
Este sentir.
Este sentir que me arrebata num só sorriso e me empurra na corrente revolta do rio num não dito velado.
Embalo-o todas as madrugadas, na esperança de te guardar os sonhos e proteger o sono. E de manhã, ao nascer do dia, pinto na pele as palavras com que te sinto.
A vida lembra-me de ti.
Liliana Lima