domingo, dezembro 28, 2014

D.I.A.

Eu sei que há riscos que cruzam a ardósia, ecoando pelos corredores o som amargo e agudo das palavras que te digo.
Eu sei.

Opto, quase sempre, pelas fotografias do álbum que não abres.
Pergunto, repetidamente, porque desenhas sempre a aguarela.
Desconfio da bússola com que orientas o mapa dos teus caminhos.
Confronto-te com o espelho, quando sorri apesar da tua mágoa, e quando te mostra o que te esforças por não ver.
Peço-te para soletrar cada palavra, para que lhe conheças o mais íntimo significado.
Esforço-me por te despir a máscara, que já nem sentes de tão bem interpretada.
Defendo até o que não defendo, apenas para provocar as tuas certezas.
Mostro-te a projeção de imagens do que ainda está para vir, enchendo a parede de possibilidades mesmo que impossíveis.

Serei bruta (?)
Serei fria (?)
Serei desagradável (?)
Serei chata (?)
Serei repetitiva (?)
Serei previsível (?)
Serei amiga (?)
Será em vão (?)

Eu sei que há riscos que marcam o chão, e que por não se apagarem tapamos com o tapete colorido, e fingimos que lá não estão.
Eu sei.

Estendo-te a mão, mesmo quando sei que não te consigo alcançar.
Abro os braços para ti, ainda que não te deixes abraçar.
Acolho as zangas, que às vezes deixas sair, e que, sei, não são para mim.
Brindo aos meios (e inteiros) sorrisos tantas vezes forçados.
Velo o teu sono na esperança de te saber a sonhar.
Aconchego o cansaço permanente que trazes para desaguar.

Serei previsível (?)
Serei utópica (?)
Serei necessária (?)
Serei excêntrica (?)
Serei indiferente (?)
Serei amiga (?)
Será em vão (?)

Eu sei que há riscos tão profundos que obrigam a agulha a saltar e voltar atrás e saltar e voltar atrás, até que o disco, estragado, acaba esquecido.
Eu sei.

Serei amiga (?)
Será em vão (?)


Liliana