terça-feira, dezembro 02, 2014

a.meias, amei.as

Não, não sou um castelo sentado na colina vestido de torres e ameias, protegendo a cidade, que dança "une valse à mille temps" sem medo da noite.

Não, não sou um pontão rasgando o mar e contendo a força das águas para salvar a baía, onde tão tranquilamente o verão segue o seu rumo, num filme colorido de fim-de-semana.

Não, não consigo pintar arco-íris no céu, que brilham mesmo nos dias de chuva e que quase ninguém vê, ou quer ver pelo meio das nuvens cinzentas.


Sou uma casa que abana e range à força do vento, onde as telhas se partem com a força da chuva e os vidros, embaciados, não deixam ver a luz do sol.

Sou um bote sem remos e de vela rasgada, perdido numa corrente que o leva e empurra para tão longe da costa.

Sou uma nuvem carregada, que junta energia dia-a-dia dentro do seu corpo, até deixar de haver mais espaço em si para uma só palavra mais.


Escrevo versos nas paredes da cidade, para conseguir soltar as palavras que não sei dizer, se não me ouvem para lá do que ecoa.

Mascaro-me de fortaleza se não sentem os meus medos.

Faço-me passar por muro erguido sob as águas revoltas se não vêem as minhas lágrimas. 


E por isso sou castelo e casa, sou pontão e bote, sou arco-íris e nuvem de trovoada.
Mas não, não sou uma rocha.


Liliana