sexta-feira, dezembro 05, 2014

AlarmE

- Estás aqui? Porque vieste?
- Porque te ouvi, à minha espera...
- Sim, e estava, ou estou. Mas não aqui.
- Foi esta a morada que me deste.
  ...
  Preferes que vá?
- Não, fica. Mas antes deixa que te mostre as paredes e te explique as rachas e manchas que vês.
- Humidade? Sismos?... Vais pintar?
- Não! Fazem parte da casa e não as quero disfarçar. Mas quero dizer-te que a porta fica sempre aberta, se soar o alarme, sairei e pouco mais terei tempo para te dizer do que adeus.
- Mas chamaste-me? Ou vim, pelo caminho iluminado pelo luar, à tua procura?
- Acho que é mais ou menos a mesma coisa...
- A porta também está aberta para mim? Ou só se abre por dentro?
- Tens a chave da porta por onde entraste.



- Não estás cá... Esqueceste-te que vinha?
- Estou! Mas não aí. Anda cá.
- Para esse lado? Mas não sou daí. 
- Claro que és! Não foi aqui que nos conhecemos?!
  Vá, anda lá.
- Não... (Deste-me a chave desta porta... Porque me chamas para aí?)
  Vou-me embora, desse lado já não sou e aqui estou a mais.
  Desculpa, não ouvi o alarme.
- Que alarme, que porta, que chave?!
  Está tudo na mesma, estás a ver mal as imagens no espelho. Anda.
   ...
  Pronto, eu vou ter contigo.
  Desculpa não estar cá sempre que chegas...
  Melhor?!
- Sim.



- Ouvi-te á minha espera, verdade?
- Sim, esperando...
- Não vim mais cedo, porque não sabia se era para vir, se cá estavas...
- Estou sempre, vou estar sempre. Posso é estar mais longe, mas estou.
- Sim?! E o alarme e as rachas e as manchas e a porta?.... 
  Pois...
- Mas estou....
  Mas posso ter de sair, já sabes...
  ...
  Enquanto vieres, estou à tua espera.
- Nem sim nem não, antes pelo contrário...
  Tenho a chave da porta por onde entrei. Fico aqui muito quieta a olhar-te pelo "canto do olho". Enquanto te ouvir à minha espera, abro a porta e entro!


Liliana