quarta-feira, novembro 19, 2014

con.CHAS

A chuva lava as ruas da cidade e leva os meus olhos com ela.
Diz-me das cores dos arcos que brilham sobre o mar
e fala-me das dores que nos dias frios ajuda a apagar.
Ofereço-lhe as minhas enquanto a espreito pela janela
e sinto-a escorrer por mim para, em lágrimas, me libertar.

Pergunto-lhe 'onde me levas neste remoinho que me embrulha
numa água gelada e me ensurdece os sentidos?'.
Entre o correr das águas e os gritos das ondas que morrem nas rochas
oiço-a dizer que é no meio dos sonhos perdidos,
por entre os despojos dos sentimentos naufragados,
que se escondem as dores que silenciámos, fechadas, em conchas.

A chuva lava as ruas da cidade e leva os meus olhos com ela.
Procuro as vieiras, os búzios, as ostras que me embalam,
guardo-as na roda da minha saia e saio, escorrendo com ela.
Chego a uma praia onde outros temporais falam,
pego nas conchas, uma a uma, enterro-as na areia molhada
e espero que cada dor se mantenha assim escondida, fechada.

Com a cara molhada, as mãos vazias e os pés descalços
estou pronta para ver as cores dos arcos, que sobre o mar, brilham.


Liliana