terça-feira, setembro 09, 2014

CoRdA

Atiro a corda o mais longe possível do cais. A ponta cai nas águas cristalinas do rio, provocando uma sequência de ondas circulares que se abrem até mim. Sento-me no chão e brinco com os aneis de água que se desfazem ao tocar nos meus pés que brincam com eles.

Olho ao fundo o laço da corda que boia, solta, na corrente. Não a consegui fazer chegar ao pequeno barco à vela que tento amarrar a terra.

Apesar do calor do meio da tarde, fico ali muito tempo. Descubro o brilho que o rio esconde, salpicando o leito de pequenos espelhos quebrados que namoram com o sol. Aprendo a distinguir as gaivotas das andorinhas do mar. Converso com o silêncio que me rodeia sem que tal me assuste. E divirto-me com os pequenos peixes que ignoram a minha presença. 

O pequeno barco à vela seguiu a corrente mas não se afastou de mim. Levanto-me e, descalça, puxo a corda molhada e torno a atirá-la o mais longe possível em busca do barco.

A luz da lua bate na corda que, finalmente, encontra o caminho para o pequeno barco. O laço abraça a proa que eu pela corda amarro ao cais para que não se solte.

Deito-me com as estrelas como companheiras e aconchego-me no luar, a noite de vela ao pequeno barco promete uma brisa fresca. O azul-escuro do céu embala-me num sono tranquilo à mercê da maré. E anoiteço em paz.

O céu acorda de mansinho e chama-me para ver o sol nascer. Com a claridade ao meu lado, desamarro a corda e tento puxar o barco para o cais sem sucesso. 

Olho os meus pés descalços, olho o barco que não quer chegar a mim e peço ao rio que me ajude. Com as gaivotas e as andorinhas do mar e o vento e a maré, o pequeno barco à vela acaba por ceder aos meus pedidos e, aos poucos, aproxima-se do cais.

Sorrio contente por o ter já perto de mim. Amarro a corda de novo ao cais, desta vez com o pequeno barco aportado. De pés descalços apresso-me a ir ao seu encontro. Afinal é lá que estás sempre, mesmo quando não estás...

Liliana