Sou filha da loucura e da insanidade
e com elas me perdi no fundo da minha verdade
Sou filha da loucura e da insanidade
fogo que guardo em mim até à eternidade
Da loucura ficou a mágoa,
cavalo correndo sem fim
numa pista amarga e solitária,
sem ventos, moinhos ou lembranças de mim
Da loucura resta esta chave,
que escondo com medo que abra
a mala de ferro, que tapo
para que de dela não salte a verdade
Mas nem tudo foi só tristeza,
pois é complexa a nossa essência
Da dualidade vivida, nasceu o terror
de perder a visão da resistência
travada com violência e rancor,
contra as formas falsas da aparência
A insanidade jogou as cartas trocadas
e no tabuleiro viciado deixou desnudadas
a verdade e a mentira que foram violadas
O preço do jogo foi de tamanha quantia
que a alma vendida, jamais, algum dia
se virou contra a voz que lhe dizia
não ser verdade o que via, apenas o que dela ouvia
E na manta de retalhos escrevi
nada do que vivi ou senti,
pois ainda hoje oiço a voz que me diz
ser mentira o que penso que fiz
Sou filha da loucura e da insanidade
e com elas, um dia, avistarei a tranquilidade.
Liliana
Abril 2005