terça-feira, fevereiro 19, 2013

Recomeçar

Disseste que me esperarias, mas eu não sabia qual de ti iria encontrar, e por isso não estava certa qual de mim levar. Concentrei-me no dia que brilhava e virei as costas ao céu escuro que, sabia, atrás de mim se mostrava.

Avancei o mais despida possível. Soltei as saias com as lembranças, despi as blusas com os receios, desenrolei os lenços com as zangas. E avancei de peito aberto, pronta para todas as leituras e interpretações. As armaduras? Essas, há muito que foram derrotadas, estão gastas e de nada valeriam.

Aproximaste-te tranquilo, com um sorriso. Encheste o espaço com uma calma que te desconhecia e que a princípio estranhei. Os caminhos, por entre a relva e o lago foram conduzidos ao ritmo das palavras. Umas sérias e pesadas, fazendo barulho ao cair no chão e outras leves e alegres, esvoaçando por entre os pardais e saltitando de tronco em tronco no meio das árvores.

Sim, estávamos mesmo ali entre a relva e o lago, os dois, despidos dum passado pesado que não mais conseguíamos carregar. Sentámo-nos à mesa e, no meio de tantas coisas, reconheci-me num percurso mais ou menos tumultuoso, mas um percurso que me fez, que me trouxe até aqui.

Rimo-nos de alguns momentos, calámos muitos. E lembrámos em especial os que, também, fizeram de mim aquilo que sou. Ali, uma mulher sem armadura, de peito aberto, capaz de aceitar um pedido de desculpa e, depois de tanta mágoa, tentar começar de novo.

Liliana