Deixem-me chorar.
Um dia ou dois para enterrar as lágrimas, uma a uma nesta terra seca onde ponho os pés para avançar.
Sim.
A dor deixa-me sem norte, as palavras que saem de mim vêm doridas, magoadas, feridas por um abandono, tão óbvio quanto repentino.
Ai, mas então entendam-me aqui, no meio do jardim, só.
E deixem-me chorar. Só hoje, ou quem sabe amanhã talvez. Mas depois volto, prometo.
Cada gota que cai na terra, que em pó se desfaz aos meus passos lentos, é água que rega a semente do que em mim já refaz, reconstrói, reinventa.
Não conheço outra forma de viver. Avanço, sorrio, dou-me e, muitas vezes acabo num silêncio estranho onde só me oiço a chorar. Depois, com o barro da terra me misturo até nele me perder. É esta a minha essência, e aqui ou ali, como flor, ou árvore, ou erva apenas, renasço.
E que alegres são os campos quando, ao desabrochar, vejo que não fiquei sozinha na montanha alta e gelada, mas antes vos tenho ao meu lado numa explosão de cores que reaprendem a viver umas com as outras, nas mais variadas formas que a natureza nos permite.
Liliana