O meu coração tem janelas, como as casas
antigas, altas e largas que se abrem em par.
Tem vontade de Sol e perde-se pelo prateado do Tejo.
O meu coração é impaciente como uma criança.
Corre de um lado para o outro e angustia-se se não vê sinais de fumo no horizonte.
O meu coração é romântico.
Gosta de contos de fadas e suspira por um cavaleiro que um dia o abrace, acorde dum sonho desanimado e o leve pela estrada dos tijolos amarelos para todo o sempre.
Não tem medo
de subir os estores e abrir as portas.
Fá-lo, aliás, com grande alegria
sempre que outro coração, mesmo que dentro da sua janela, lhe fala, o faz sentir interessante ou o acolhe.
Fechá-lo
é sempre mais complicado.
Ele é sonhador. Gosta de ver o rio, mergulhar no mar, e dançar no
céu.
Voltar para casa e fechar a janela nunca é sua vontade.
Acredita. Acredita sempre, mesmo quando
sabe que é impossível, que não vale a pena, que chegou ao fim da estrada.
O meu coração é teimoso.
E mesmo quando são horas de voltar, teima em voar por entre as nuvens, como um balão colorido ao sabor do vento.
Enquanto
eu, cá em baixo, às vezes deixo os olhos chover pelo que nunca vai ser,
outras consigo sorrir com o que guardei em mim.
Liliana