quarta-feira, janeiro 23, 2013

Relógios no Tejo

De janelas abertas sobre o Tejo, banhado por um Sol dourado de Julho, olho para o relógio de pé da casa dos meus bisavós e sigo o ponteiro do segundos.
O tempo não pára nem para olhar o rio, e as ondulações brilhantes, que entra pela janela dentro sem pedir licença.
Uma brisa suave parece chamar por mim e sussurrar ao relógio que me dê tempo para viver. Tocam as cinco horas e os ponteiros sorriem comigo.

Saio para a rua e inspiro o ar fresco do início de tarde de Verão. Saltito enquanto o vestido esvoaça e o cabelo voa livre. 

Penso em ti. Mas logo me recordo dos "ses" e dos "mas", dos medos e fantasmas e passados, que ambos carregamos. Abrando o passo e o vestido e o cabelo acalmam o ânimo.

Ao meu lado ainda o Tejo, em recortes dourados que brilham aqui e ali num jogo que me ofusca os olhos. Como sempre procuro-lhe as respostas que acho, posso encontrar em mim. E hoje era bem claro o que me dizia, na brisa, na ondulação, na corrente até. Vai!

E eu fui. Fui procurar-te, ainda que os "ses" e que os "mas" e tudo o resto. Ainda que me dissesses que não. Ainda que ainda ficasse mais só.

Todos os relógios por onde passava me diziam que o tempo certo é o agora, não o ontem ou o amanhã. E era agora que estava decidida a viver.

Afinal não se pode viver nas lembranças nem por antecipação, o melhor é mesmo, olhar para o relógio e coordenarmo-nos com os seu ponteiros.

Liliana