Sou actriz duma peça pobre onde, sozinha desempenho todos os papeis. Os cenários são os próprios locais e luz é a que a cidade me oferece.
Camaleão por entre as emoções, visto mais depressa uma gargalhada do que dispo uma lágrima.
Depois, há os dias em que me perco no guarda-roupa onde os ténis se equilibram nos sapatos de salto, e os vestidos concorrem com as calças justas pelo melhor cabide.
Hoje foi um desses dias. Abri a porta à procura da vestimenta certa para condizer com um sorriso leve, mas existente e um mundo de falsas emoções, estados de espírito, recordações reprimidas, lágrimas engolidas e sorrisos fingidos à custa da dor, olhava para mim pedindo para ser escolhido.
Assustada com tantos sentimentos à solta fugi para longe e sentei-me no chão, tentando perceber o que acontecera. Perdi-me, no meio deste teatro pobre, dentro desta carapaça de camaleão.
O que sou está cá, porque dói numa dor fininha que não se deixa esquecer. O que sinto vive em mim porque baloiça cá dentro o mar inteiro à espera para sair.
Mas estou tão colada à carapaça e habituada às roupas que já não me sei ver sem elas. Não me consigo despir, tornei-me refém das minhas próprias protecções.
Terei acaso de aprender a viver a realidade através das máscaras?!
Liliana