Procuro-te por
entre as horas do dia mas não encontro nada.
Podia jurar que
te deixei aqui, mesmo ao lado dos filhos e da escola e do trabalho e da casa e
das esperas e da saudade, mas não estás em lado nenhum.
Um silêncio
ensurdecedor espalha-se por toda a casa apertando-me o peito.
As fotos das
horas alegres apagam-se nos móveis e um vazio baço ocupa o teu lugar.
Estendo a mão
na cama em busca do teu corpo, mas estou só.
Os lençóis
ainda quentes e as memórias penduradas no roupeiro são a única prova de que não
te sonhei.
Chamo-te, mas a
minha voz ecoa num muro silencioso que parece dividir-me do resto do mundo.
As palavras que
dissemos rodam ainda no tecto e, por toda a casa, o teu cheiro perdura.
A noite
conta-me dos nossos corpos que se entrelaçavam, ainda agora, nesta mesma cama
onde me deito sozinha.
Procuro-te por
entre as horas da madrugada, mas a lua não te ilumina o rosto.
Espero-te no
escuro, perco-me no silêncio, e reconheço-te em cada virar de esquina ao
tropeçar numa memória.
O silêncio mata
as palavras, escurece as fotos, arrefece os corpos. Mas não apaga o fantasma de
ti que sobrevive dentro mim.
Liliana