sexta-feira, setembro 14, 2012

Alice

Estou a cair... e a rodar... sinto o peso do corpo assente num colchão de passados presentes nas horas da noite.


Caí novamente? Escorreguei. Tropecei na pedra. Sempre a aquela pedra Drummond. Eu caí nela e ela lá continua, "no meio do caminho"... Sempre no "meio do caminho", porque havias tu de a inventar? Porquê escrevê-la e deixar que ela exista ali, no MEU caminho? Porra para ti e para a tua pedra, Drummond!

Escorrego, embato, desco rápidamente sem conseguir ver onde estou. Está escuro... vejo imagens deformadas. Que querem?! Quem são vocês?!... Só me faltava o coelho para ser Alice. Mas Alice não sou! Já me deixei de crenças, que o arco-íris, esse, é um mero reflexo da luz na humidade dos desejos vãos.

Os desejos... os verdadeiros, aqueles que nos fazem subir e não cair nos buracos, onde estão Simone? Ficaram lá em cima que aqui é só o escuro e os fantasmas que nascem do "medo até de ter medo". 

Ah! Qual medo! O medo é para os fracos "meu irmão". E eu, não quero este buraco escuro de onde não sei sair e para onde, tantas vezes me deixo levar. Quero lá saber das horas e das marés! Eu quero é respirar sem este aperto. Eu quero é olhar para o pôr-do-sol sem esta inquietação que tu me ensinas desde que nasci Zé Mário!


Já não sei se caio se me atiro. Se me afogo ou se mergulho, porque o agora e o aqui são conceitos indefinidos que, por mais que queira, não consigo lembrar-me onde os deixei. Perdi a conta às horas e não me vejo em nenhuma manhã. Esta invontade voluntária de me ajudar a amparar a queda deixou-me paralizada.


Agora quero mesmo cair! Preciso de embater no chão e partir-me em mil cacos! Quero saltar! 

...Mas quero ficar. Lá fora não sei como sou... Aqui bebo o chá das cinco com meus fantasmas e faço corridas com os medos... "Que força é esta"?!  Porra! "Que força é esta"?!

Vou saltar!

...vou-me enroscar...

Partir tudo, recomeçar!

...tenho medo...

Tem de ser!

...não consigo...
...estou só, posso gritar que ninguém me ouve, dentro de mim não há mais ninguém... 

...e lá fora? Quem me entenderia?!
Ninguém... 

Não, não posso sair deste casulo...

Fico.

Só.

Liliana