Saio de casa
atrasada, qual coelho da Alice correndo atrás dos ponteiros irrequietos do
relógio. O dia está triste, o sol espreita mas não consegue derreter o muro de
nuvens espalhadas pelo céu.
Desço a avenida, com
um sapato calçado e outro ainda na mão, saltitando ao pé coxinho até o calçar.
Ao fundo o Tejo acompanha a minha correria, em pequenas ondulações que o
despenteiam e agitam. Paro para o cumprimentar.
As nuvens abafam a
luz e cor das águas mergulha indecisa, entre o cinza e o azul. Esqueço-me dos
ponteiros que giram ao som dos carros, e olho demoradamente as águas procurando a
cor azul dos olhos do meu avô. Alternam-se o cinzento e o azul das águas com o
passar da brisa e da corrente que as faz dançar.
Todos diziam que os
teus olhos eram cinzentos, mas são azuis. São azuis da cor das manhãs de
primavera! São azuis da cor do cheiro do verão e do mar! São azuis da cor dos
sonhos impossíveis!
Sabes? Tenho saudades
do azul dos teus olhos, por muito que todos digam que eram cinzentos, para mim
eram azuis, de um azul vivo, alegre.
Seria o azul dos teus
olhos somente para mim? Gostava de pensar que o guardavas só para mim, escondido
entre o cinzento que mostravas ao resto do mundo!
E, no entanto, aqui
estão eles, alternando entre o cinzento e o azul, como as águas do Tejo que
dança com a brisa e a corrente...
Mostra-me o azul do teus olhos só meu!
Não tenho pressa,
posso esperar...
Esperemos os dois
pela hora certa, enquanto os carros de um lado para outro atrás dos ponteiros
irrequietos como o coelho da Alice...
Tenho tempo.
Para ti,
para o teu azul meu, azul dos teus olhos.
Fico aqui, sentada à
beira-rio, esperando que o sol me devolva o azul do Tejo dos meus olhos do meu
avô.
Liliana
02/Fev/2009
"Esse teu
olhar
Quando encontra o
meu
Fala de umas coisas que
eu não posso acreditar...
Doce é sonhar, é pensar
que você,
Gosta de mim, como eu
de você...
Mas a
ilusão,
Quando se
desfaz,
Dói no coração de quem
sonhou,
Sonhou
demais...
Ah, se eu pudesse
entender,
O que dizem os seus
olhos."
Tom Jobim