sábado, abril 07, 2012

Don Juan...


Numa mão o sorriso infantil e o olhar meigo, na outra toda a poesia do mundo embrulhada numa canção.

Chegaste numa noite de lua cheia. Atravessaste o jardim contornando as árvores e evitando os canteiros, como que longe da cidade, atento apenas aos pássaros e às histórias que cantam no trinar dos seus contos.


A noite era leve e olhei sem te ver. Não senti, apenas te ouvi.

Foi com palavras e em palavras que me acordaste desse abandono tranquilo em que mergulhara. Despertaste um desejo secreto, velado, fechado. Abraçaste-me no silêncio da lua nova e beijaste-me nas ondas do mar.

O jardim floriu num arrepio de Primavera. Impossível, tornou-se não te ver ouvir ou sentir, a toda a hora e sob todos os luares. Nada parecia silenciar a canção que, em surdina, cantavas comigo em todas as ruas da cidade. Inventámos uma história, e mergulhámos na praia dos sentidos e das emoções. Num segundo apenas, vivemos a música de todos os rios correndo para o mar.

Como o Sol, que todas as noites beija o horizonte e apaga as flores, também tu seguiste a Terra e apagaste o cantar da lua (da minha lua). Seguiu-se a noite, escura e longa, com chuva e trovoada, dúvidas e tristezas.

Ao amanhecer o sol não apareceu e o dia tardou em tirar a cabeça da almofada onde, o mar ainda desaguava. Uma brisa morna soprou pelo jardim, onde todas as flores, murchas, pediam luz. Fiquei à beira das roseiras, tristes e despidas, procurando avançar mas sem conseguir andar, buscando o amanhã mas sem sair do ontem. Ali fiquei muitas luas, parada com pena de mim, com saudades de nós.

Atrás da árvore mais alta, a noite levantou o véu e a lua mostrou-se, altiva, no seu quarto cheio. Arrisquei um passo em direcção às margaridas que pediam para nascer e a cidade inteira avançou comigo. Aos poucos as estrelas acenderam a vontade e reavivaram a esperança.

Um novo dia acabava de nascer.

Liliana