segunda-feira, janeiro 02, 2012

Saudades... das palavras, Almada?!

Tenho saudades das palavras que me acordam e pedem para serem escritas. Sinto falta da fina rede feita de letras por onde são filtradas as emoções que se encavalitam para compor o fio condutor do texto que espelhará a minha sombra.

Tenho saudades das linhas que se vão enchendo à força das ideias que desafiam os ponteiros e se degladiam para se fixar na história que ecoa pelas salas e quartos e ruas e espelhos e jardins e comboios, por onde quer que andemos...

Tenho saudades do teclado que, sem me dar conta, toca "une valse a mil temps" enquanto o enredo se adensa, letra a letra num jogo de palavras, emoções, ideias e sentimentos que se tornam vivos e dançam à minha volta.

Não sou eu quem encontro os textos e os faço histórias, frases ou poemas minimamente legíveis. São eles que brincam comigo pelas horas dos dias, jogam às escondidas entre as conversas mais prosaicas, fingem-se despercebidas no meio dos papeis, fazem-me tropeçar neles até lhes pegar, acarinhar, acolher, alegrar e, por fim, escrever...

Liliana





"O preço de uma pessôa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras. Lê-se nos olhos das pessôas . As palavras dançam nos olhos das pessôas conforme o palco dos olhos de cada um."
'As Palvras' (pág.19)
in "A invenção do dia claro" Almada Negreiros


Post Scriptum:
"Quando copiei pela ultima vez a Invenção do Dia Claro, sobejou uma frase que não me recordo a que alturas pertence. A frase é esta:
Ha systemas para todas as coisas que nos ajudam a saber amar, só não ha systemas para saber amar!"
'Uma frase que sobejou'
(Pág.44)
in "A invenção do dia claro" Almada Negreiros