domingo, dezembro 25, 2011

O natal das palavras...

Há já muito que as minhas palavras se acumulam presas, como velhas caixas esquecidas no sótão, como embrulhos por abrir num armazém esquecido. Os dias, embora de Sol, estão frios por dentro e os doces, luzidios, estão secos e sem sabor.

Procuro nas luzes que brilham, alternando os ritmos, no quarto dos miúdos a forma certa de as soltar. No outro dia escrevi uma num balão iluminado de azul, "Felicidade" dizia, mas preferi guardá-lo para lhos oferecer do que lançá-lo aos céus estrelados. Anda pelo chão, ainda iluminado como uma vela esquecida, no meio dos brinquedos que se amontoam como as minhas palavras, presas como pássaros a quem cortaram as asas.

Cada hora que passa tem o peso que nós próprios lhe atribuímos. Sei-o. Esforço-me por carregar de valor os momentos realmente importantes, sem me perder no meio do barulho dos carros que passam atrasados das crianças que choram com sono da roupa que tenho para estender das estradas que escolho percorrer do frio das noites em branco dos rios que teimam em pingar dos carros que passam atrasados e das crianças que choram de sono...

Amontoam-se-me as palavras que sinto no peito aprisionado entre emoções e receios. Como gostava de as soltar, se as libertasse uma a uma!

Os dias passam acorrentados aos ponteiros dum relógio que não pede licença para avançar, e que corre como uma criança em busca da bola que foge pelo campo. Também os dias têm o valor que nós lhes damos. E a cada um deveríamos ser capazes de validar momento a momento, sem o peso dos nomes das expectativas dos modelos dos medos das formas certas e das receitas dos nossos avós.

Assim são também as palavras, as minhas palavras, presas em âncoras que, mergulhadas num mar tão profundo e escuro, nem com a iluminação de Natal se mostram ou se deixam levar com a corrente até à areia branca duma qualquer praia, quem sabe escritas num papel enrolado dentro duma garrafa de vidro com uma rolha de cortiça ressequida... como nos filmes... de Natal!

Liliana