quarta-feira, outubro 12, 2011

As fadas também choram

No meio da relva mal cortada, por entre as flores abertas e as borboletas esvoaçantes, ela, enrolada sobre os joelhos, embalava-se lentamente para a frente e para trás. Como numa dança índia, invocava com toda a sua força uma inspiração, uma razão para se levantar e lançar serpentinas coloridas para alegrar os dias.

Os pássaros continuavam a cantar e a brisa, mesmo sem serpentinas, continuava a acariciar os campos espalhando as sementes que, mais tarde, continuariam a desabrochar.

A cada minuto se tornava mais claro que o amanhã, sem ela, seria apenas mais um amanhã como tantos outros.

Pensou nos seus, nos que amava. Nenhum dependia já dela. A todos dera asas para que, a seu tempo, se assim o quisessem, conseguissem voar.

Pensou nas crias, nos filhos que à sua roda cresciam. Não dependiam já dela para sobreviver e cada dia lhe era mais difícil gerir o ninho com a precisão e naturalidade que lhe eram exigidos como mãe.

Pensou em todos os que, regularmente, se cruzavam com ela. Uns mais outros menos, todos ouviram já a sua canção. A música com que lançava serpentinas já os tocara de alguma forma.

Pensou nos que não conhecia, com quem não tinha ainda dançado. Haveria outras fontes que limpariam as suas feridas e alegrariam os seus sonhos.

A cada minuto, enrolada sobre os joelhos no meio da relva mal cortada, se tornava mais claro que um amanhecer, sem ela, seria apenas mais um nascer do Sol a que se seguiriam outros e mais outros e mais outros...

Com as serpentinas amontoadas ao seu lado, ela nem tinha já certeza qual era a sua canção, já nem estava certa de saber como enrolar os fios coloridos para lançar ao luar.

Por entre as flores abertas e as borboletas esvoaçantes, ela embalava-se lentamente para a frente e para trás. Como numa dança índia, invocava com todas as suas forças que uma fada a encontrasse, lhe cantasse uma canção que iluminaria os seu sonhos e, por entre serpentinas coloridas, alegrasse os seus dias.


Liliana