quinta-feira, setembro 15, 2011

Abre a janela!

Abro a janela com muito cuidado
não quero deixar sair um só suspiro deste meu respirar
Deixo entrar o ar fresco do rio e juntar-se ao oceano do meu peito
A água salgada que me escorre pela cara denuncia o meu luar

Avanço pelas ruas vazias, descalça, na luz da noite que me protege
Chego ao rio e diluo-me na ondulação, agora escura, reflectindo o céu
Cada estrela um sonho por concretizar um beijo por dar um abraço por sentir uma lágrima por chorar um corpo por estremecer um sorriso por nascer

Olho a cidade iluminada e despeço-me do passado

Desaguo numa praia desconhecida, as pedras magoam-me os pés nus
Procuro a areia que não vem e encontro as conchas onde, noutra vida, me entreguei a ti

Avanço até ao cruzamento onde as estradas da vida se misturam
Sento-me no chão aquecido pelo sol, que vai alto, e olho em volta
Não reconheço os caminhos não tenho mapa e a bússola, perdida, caiu no mar

Encontro pontos de referência nas portadas da minha janela

Fecho-a com muito cuidado
não quero deixar sair nem um suspiro deste meu respirar
Agarro o rio e as ruas e o luar e o mar e as estrelas e a praia e as pedras e as conchas e as estradas e o cruzamento e o mapa e a bússola e
Descalça, levo comigo o mundo inteiro, e volto para dentro



Liliana