Sabes de que tamanho é o vazio que me espreita de hora-a-hora? É maior que eu, esconde-se no fundo de mim, finge que não existe, mas está lá, sempre, à espreita.
Quero sair e não consigo, mas lanço sempre a mão à procura da corda...
Sabes o que é ter o vazio dentro de ti? É procurar continuamente a nascente dia-a-dia e encontrar o poço seco, todas as noites.
Luto por me manter completa, cheia, luto para não me esvaziar num sentimento que me amordaça, luto por manter a minha voz viva.
Sabes como é olhar para o espelho e não não ver imagem alguma do outro lado? É sentir este enorme vazio que não me engole, mas me persegue e me abafa sem me deixar espaço para ser, falar, sonhar.
Tento lembrar-me de mim, procurar-me por entre as memórias e refazer-me do nada.
Sabes o que é ter um peso no peito, querer respirar fundo e sentir-me apertada num espartilho de varas, sem forças para andar?
Procuro manter a esperança viva, manter o equilíbrio, de pé, na corda bamba.
Tenho um enorme vazio dentro de mim, que tento encher com as mais variadas coisas, mas ao qual não consigo fugir.
Continuo sempre a sorrir, à falta das lágrimas secas no deserto, e sei que tenho de avançar, tenho sempre de continuar...
Liliana
"(...)
Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Porquê, não sei
Porquê, não sei ainda
(...)"
"Inquietação" de José Mário Branco