domingo, março 20, 2011

Pelo que esperas Chico?


Há uma hora em que os ponteiros deixam de contar o tempo do meu tempo. Sais, e contigo saem as horas, os dias, os minutos, que te seguem até ser tempo de voltares.

Todas as vidas têm tempos distintos. Tempo de sonhar, tempo de avançar, tempo de mudar, tempo de esperar. Eu espero o tempo em que o relógio das marés recomeça a andar. A lua força as ondas para que rebentem ora tímidas ora estrondosas na areia que vai escorrendo pela ampulheta até chegar o último grão. Tempo que me foge pelas mão por muito que o tente agarrar.

Há uma hora em que, podia jurar, todos os relógios do mundo se recusam a seguir viagem. O tempo pára quando te afastas. A lua, enregela e deixa de chamar o mar que pára a corrente, transformando o oceano num enorme mar morto.

Todas as vidas têm tempos diferentes, cíclicos, que se sucedem com o passar dos dias. Eu espero pelo tempo em que o mar se balança num suspiro e se espalha, dançando, enquanto se mistura com a areia...
Liliana


"Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando

Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval

E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também

Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém

Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem"

"Pedro pedreiro" de Chico Buarque