domingo, fevereiro 13, 2011

Viste hoje o mar a transbordar, Fausto?!

Hoje o mar entrou pelo meu rio dentro, misturando as águas, revolvendo as ondas, embatendo nas margens.
Hoje o mar entrou pelo meu rio e fez a a corrente andar ao contrário, e de mim barca perdida que vai da foz à nascente.
Hoje o mar entrou no meu rio, em pequenas gotas salgadas que se diluíram, tingindo o leito com cores que desconheço.

No meio da maré, perdi a menina que cantava alegre entre as portas da sala. A agua varreu os sonhos, encantos que flutuaram pelo meio de bonecas, vestidos e laços. E o sal secou os sorrisos que lembravam outro rio, de água doce e cristalina, por entre carinhos e mimos de criança.

O mar não pediu licença, quando entrou pelas janelas da sala abertas em par, para o sol que iluminava a criança encantada. O sal colou-se-lhe à pele e as mãos secas obrigaram-na a crescer, crescer, envelhecer... antes mesmo de encontrar o tal do planeta de onde, jurava, ter vindo.

Hoje o mar entrou pelo meu rio e as ondas bateram nas rochas e levantaram-se no céu.

Pedi-lhe de mansinho que se afastasse. E ele, quem sabe com pena, quem sabe por amor, retomou a corrente e voltou ao seu leito, de mansinho, como quem pede desculpa. Repôs a menina, as janelas, e até as cantigas alegres no ar. Mas os sonhos, esses, escorreram salgados dos meus olhos embaciados...
Liliana





"Meu amor adeus
Tem cuidado
Se a dor é um espinho
Que espeta sozinho
Do outro lado
Meu bem desvairado
Tão aflito
Se a dor é um dó
Que desfaz o nó
E desata um grito
Um mau olhado
Um mal pecado
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono
Porque não me vês
Maresia
Se a dor é um ciúme
Que espalha um perfume
Que me agonia
Vem me ver amor
De mansinho
Se a dor é um mar
Louco a transbordar
Noutro caminho
Quase a espraiar
Quase a afundar
E a saudade é uma espera
É uma aflição
Se é Primavera
É um fim de Outono
Um tempo morno
É quase Verão
Em pleno Inverno
É um abandono"

"Porque não me vês" de Fausto

in Por este rio acima