terça-feira, fevereiro 01, 2011

Onde, José?

Onde nos vamos encontrar? Neste mar de horas marcadas e agendas mais que abusadas? Aquele dia livre que boiava no rio já se afundou com o peso das obrigações. Viste a gaivota que o olhava, desconfiada? Perguntou-lhe "quem és?", "sou o tempo esquecido" respondeu-se o dia, mas logo a sua voz fez vibrar as folhas, escritas riscadas e rabiscadas da agenda e, um segundo o engoliu no meio dos pendentes que ficam sem dia nem hora nem data marcada.

Onde nos vamos encontrar? Se a cidade não pára e as crianças logo de manhã com bibes coloridos e lancheiras recheadas por entre e os carros mal-dispostos e os barcos apressados e os comboios apinhados que não deixam passar os minutos, sem o burburinho de quem já nem procura o sentido do tempo numa maré de afazeres.

Onde nos vamos encontrar? Se o silêncio não tem hora nem dia nem espaço para se fazer ouvir e, calmamente se instalar, manto tranquilo que aconchega e acolhe e embala? Dizemos contrapomos discutimos repetimos defendemos e argumentamos, mas não olhamos, não ouvimos, não sentimos, não tocamos. Não há tempo.

Onde nos vamos encontrar? Para, fora do tempo, nos olharmos sentirmos tocarmos ouvirmos e, provavelmente em silêncio, descobrirmos o tanto que temos para nos dar?!

Liliana


Com "Eu vim de longe" de José Mário Branco
como pano de fundo