quinta-feira, maio 06, 2010

Queres que te empreste o meu espelho, Maria?

Tenho um espelho de olhares, sorrisos e brilhos recortado, a quem pergunto qual de mim é a mais bonita.

Tenho um espelho que me fala por entre olhares cúmplices e me escolhe entre todas as que reflicto nos seus mil fragmentos brilhantes.

Tenho um espelho que me faz sorrir sempre que me devolve o melhor lado de mim mesma, me afaga e anima, enquanto esqueço que sou todas as outras.

Tenho um espelho que me faz sentir brilhante, viva, alegre e bonita, ao mesmo tempo que me convence que devolve somente a minha verdade.

Tenho um espelho que me projecta no azul claro das manhãs de primavera em que o céu e o rio se fundem e se confundem, alheios ao mundo que os rodeia.

Tenho um espelho que guardo comigo para, nas horas em que me perco dentro de mim, me ajudar a ver onde está a face certa, o melhor perfil, o retrato mais fiel, enquanto lhe pergunto qual de mim é a mais bonita.

Liliana




"e multipliquem os espelhos que cantam
tenho o coração escondido para que ninguém o veja
conheço a chuva dos olhos e encosto o ouvido
aos joelhos

dou-te uma escada construída por relâmpagos
uma escada feita de folhas e de cântaros para
matar a sede
e uma pomba dentro do poema
para que possas morrer

cantar num rumor
do
fogo"


"Explicação dos espelhos"
em "A chuva nos espelhos" de Maria Azenha