segunda-feira, março 23, 2009

Vamos soltar um balão, José?

Podemos sempre tentar - digo eu, mais para me convencer a mim própria do que na esperança vã de te levar a concordar comigo. Diz-me sinceramente se não te seduz a ideia de prender num balão todos os sentimentos que tentas silenciar e, simplesmente, soltá-los no ar. Diz-me, olhos nos olhos se não o farias, se pudesses.

Imagina apenas. Fecha os olhos, não penses, não puxes o lado lógico do teu cérebro, deixa-te ir, solta a imaginação e visualiza o balão a voar, cada vez mais longe. Imagina... sentes a força libertadora? Deixa-o ir, despede-te e suspira fundo...

Podemos sempre tentar - repito, agora já com vontade de te convencer. Que tens a perder? Pega num cartão, deita fora o que está a mais. Escreve, que escrever é como tomar banho nas águas límpidas de um rio que nos purifica e lava a alma.

Agora vai buscar os balões, aquele colorido que parece o arco-íris para mim, o outro cor-de-rosa com bolas brancas para ti. Prende o cartão no fio e vem comigo ao cimo da montanha mais alta (aquela onde a águia abriu a asas e voou).

Chegámos, é aqui bem no cimo, onde o ar custa mais a respirar e a lua está à distancia de um salto. Respira fundo, olha para o céu, deixa-te inspirar pela luz trémula das estrelas e deixa-o ir, solta o balão!

Podemos sempre tentar... digo eu a olhar para os dois balões que sobem no ar cada vez mais longe, quase a tocar na lua...
Liliana Lima


"(...)

Matemáticos pontos combinando,
Tendo por base a grande Astronomia,
Um Génio, que não tem nada de brando,
Projecta ir ver o Sol, fonte do dia:
Em pejado Balão vai farejando,
Subindo mais e mais como devia;
Divisa a Lua, mete-se por ela,
Pasma de imensas cousas que viu nela.

(...)"


José Daniel Rodrigues da Costa in "O Balão aos Habitantes da Lua" (1819)