Eu fui um dia o teu cavaleiro andante, tu eras a minha bailarina.
Lembras-te?
Quando os dias eram longos e as manhãs demoradas.
Espalhávamos os legos e os carecas, as tuchas e os carros, os camiões e os lápis, inventávamos histórias e corríamos o mundo no teu cavalo de pau... no teu quarto.
Lembras-te?
Quando os dias eram longos e as manhãs demoradas.
Espalhávamos os legos e os carecas, as tuchas e os carros, os camiões e os lápis, inventávamos histórias e corríamos o mundo no teu cavalo de pau... no teu quarto.
Às vezes chegavas aflita a minha casa, a correr, chorando porque a lua não iluminava a tua dança.
Eu subia para o cavalo, dobrava oceanos e cruzava desertos para te devolver o luar. E tu, então, dançavas feliz com as estrelas que brilhavam, e esquecias as mágoas e as desventuras que te assaltavam as noites frias.
Eu subia para o cavalo, dobrava oceanos e cruzava desertos para te devolver o luar. E tu, então, dançavas feliz com as estrelas que brilhavam, e esquecias as mágoas e as desventuras que te assaltavam as noites frias.
Eu cavalgava ao teu lado, e jurava que seria, para sempre, o teu cavaleiro andante e tu a minha bailarina. Até nas tardes de chuva, em que te encostavas ao meu peito enquanto te contava histórias das minhas aventuras, loucas mentiras que inventava para te ver sorrir.
Lembras-te?
Tu dançavas ao som das músicas mal sintonizadas no rádio do teu quarto e eu, feliz, cavalgava ao teu lado afastando os ventos e as chuvas que o teu medo trazia.
Quando os dias eram longos...
Eu fui um dia o teu cavaleiro andante.
E hoje ainda guardo o cavalo, o teu velho cavalo de pau, no sótão encavalitado por cima dum caixote de discos antigos e riscados.
Soubesse eu em que ruas te encontraria e, sem demora, montava nele e cavalgava até ti, só para te ver dançar à luz do luar!
E hoje ainda guardo o cavalo, o teu velho cavalo de pau, no sótão encavalitado por cima dum caixote de discos antigos e riscados.
Soubesse eu em que ruas te encontraria e, sem demora, montava nele e cavalgava até ti, só para te ver dançar à luz do luar!
Liliana Lima - 19 de Março de 2009
"Porque sou o cavaleiro andante
Que mora no teu livro de aventuras
Podes vir chorar no meu peito
As mágoas e as desventuras
Sempre que o vento te ralhe
E a chuva de maio te molhe
Sempre que o teu barco encalhe
E a vida passe e não te olhe
Porque sou o cavaleiro andante
Que o teu velho medo inventou
Podes vir chorar no meu peito
Pois sabes sempre onde estou
Sempre que a rádio diga
Que a américa roubou a lua
Ou que um louco te persiga
E te chame nomes na rua
Porque sou o que chega e conta
Mentiras que te fazem feliz
E tu vibras com histórias
De viagens que eu nunca fiz
Podes vir chorar no meu peito
Longe de tudo o que é mau
Que eu vou estar sempre ao teu lado
No meu cavalo de pau"
Rui Veloso - Cavaleiro Andante (in Rui Veloso 1986)