sábado, janeiro 17, 2009

O que ouves no silêncio, Eugénio?

O que resta depois de ditas as palavras?
O que sobrevive ao olhar silencioso
que se esconde no chão
e se demora num eco mudo?

O que fica por dizer no fim dos segundos,
anos que se parecem, em rota de colisão
num imenso deserto surdo?

O silêncio.
Apenas e só o silêncio.
Em toda a sua vastidão
de lua nova e medo fecundo.

Mas também no silêncio,
e em silêncio
um lamento, uma ternura, um perdão.

Mas também no silêncio,
e em silêncio
um rol de porquês desamparados,
um turbilhão olhares fatigados.

Porque também no silêncio,
e em silêncio
se escondem as palavras não ditas,
cresce a energia dos desejos não confessados,
nascem as respostas às perguntas perdidas.

O que resta, então, depois de gastas as palavras?
Um mar de emoções, uma corrente de sentimentos
que, apesar de amordaçados e escondidos
se mostram vivos, reais e sentidos.

Liliana Lima - Maio/2005




"Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
ainda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas. "


O Silêncio - Eugénio de Andrade (in "Obscuro Domínio")