O que resta depois de ditas as palavras?
O que sobrevive ao olhar silencioso
que se esconde no chão
e se demora num eco mudo?
O que fica por dizer no fim dos segundos,
anos que se parecem, em rota de colisão
num imenso deserto surdo?
O silêncio.
Apenas e só o silêncio.
Em toda a sua vastidão
de lua nova e medo fecundo.
Mas também no silêncio,
e em silêncio
um lamento, uma ternura, um perdão.
Mas também no silêncio,
e em silêncio
um rol de porquês desamparados,
um turbilhão olhares fatigados.
Porque também no silêncio,
e em silêncio
se escondem as palavras não ditas,
cresce a energia dos desejos não confessados,
nascem as respostas às perguntas perdidas.
O que resta, então, depois de gastas as palavras?
Um mar de emoções, uma corrente de sentimentos
que, apesar de amordaçados e escondidos
se mostram vivos, reais e sentidos.
Liliana Lima - Maio/2005
"Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,
e o sono, a mais incerta barca,
ainda demora,
quando azuis irrompem
os teus olhos
e procuram
nos meus navegação segura,
é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,
pelo silêncio fascinadas. "
O Silêncio - Eugénio de Andrade (in "Obscuro Domínio")