segunda-feira, janeiro 19, 2009

Estás aí Manuel?!


Estás aí?!



Pergunto eu baixinho com medo de acordar a lua e precipitar a resposta. Conheço bem o eco da minha voz no silêncio da noite. Abro as portas da varanda em par e repito a pergunta numa teimosia que serve apenas para manter viva a esperança da resposta...



Estás aí?!




Sussurro, articulo as palavras sem deixar sair o som, não quero assustar as estrelas. Sei da cumplicidade da noite e é nela que me envolvo enquanto a minha voz, em silêncio, percorre as ruas até chegar ao Tejo. As luzes reflectem-me nas águas que se agitam em pequenas ondulações e espalham a pergunta até à outra margem.



Estás aí?!... Estás aí?!...



Desde as esquinas apertadas de Alfama até às muralhas altas do Castelo, a brisa embala a minha voz e semeia nas pedras da calçada a pergunta feita em silêncio. O eco de uma árvore acorda as estrelas no escuro da noite e, cúmplices também, replicam em código Morse pelos céus...



Estás aí?!



Encosto-me na varanda banhada pelo luar e escuto a cidade que te chama comigo. Em todas as ruas os candeeiros esforçam-se por iluminar a esperança, e as árvores abanam os seus ramos enquanto perguntam às flores dos canteiros se sabem de ti.



A madrugada acalma o silêncio em que a cidade cantava encoberta pela noite e, aos poucos, as águas do Tejo pintam-se de azul em sinal de um novo dia que nasce.



Na varanda, espreguiço-me e acordo de um sonho agitado. Volto para dentro e, enquanto fecho as portas de vidro, avisto na outra margem uma gaivota que parece perguntar...



Estás aí?!



Liliana - Jan/2009



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"Há muito tempo


era uma vez


um homem que se perdeu


da sua amada


e vagueou


por entre as nuvens do céu.


Perguntou à mais pequenina


se a tinha visto ao passar


depois à nuvem mais carregada


nenhuma o podia ajudar.


E assim passou tanto tempo


tecendo mil planos


em fios de algodão


que se desvaneciam


em nuvens no seu coração.


Todas as nuvens


da sua rua


foram à sua janela


escureceu, adormeceu


ficou a sonhar com ela.


E o mau tempo passou


o sol despontou


numa festa de cor


de manhã todas as flores


sabiam de cor


onde estava o seu amor."


"Pelas Nuvens" de Manuel Paulo

(interpretado por Graça Reis, no álbum Assobio da Cobra)