Estás aí?!
Pergunto eu baixinho com medo de acordar a lua e precipitar a resposta. Conheço bem o eco da minha voz no silêncio da noite. Abro as portas da varanda em par e repito a pergunta numa teimosia que serve apenas para manter viva a esperança da resposta...
Estás aí?!
Sussurro, articulo as palavras sem deixar sair o som, não quero assustar as estrelas. Sei da cumplicidade da noite e é nela que me envolvo enquanto a minha voz, em silêncio, percorre as ruas até chegar ao Tejo. As luzes reflectem-me nas águas que se agitam em pequenas ondulações e espalham a pergunta até à outra margem.
Estás aí?!... Estás aí?!...
Desde as esquinas apertadas de Alfama até às muralhas altas do Castelo, a brisa embala a minha voz e semeia nas pedras da calçada a pergunta feita em silêncio. O eco de uma árvore acorda as estrelas no escuro da noite e, cúmplices também, replicam em código Morse pelos céus...
Estás aí?!
Encosto-me na varanda banhada pelo luar e escuto a cidade que te chama comigo. Em todas as ruas os candeeiros esforçam-se por iluminar a esperança, e as árvores abanam os seus ramos enquanto perguntam às flores dos canteiros se sabem de ti.
A madrugada acalma o silêncio em que a cidade cantava encoberta pela noite e, aos poucos, as águas do Tejo pintam-se de azul em sinal de um novo dia que nasce.
Na varanda, espreguiço-me e acordo de um sonho agitado. Volto para dentro e, enquanto fecho as portas de vidro, avisto na outra margem uma gaivota que parece perguntar...
Estás aí?!
Liliana - Jan/2009
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"Há muito tempo
era uma vez
um homem que se perdeu
da sua amada
e vagueou
por entre as nuvens do céu.
Perguntou à mais pequenina
se a tinha visto ao passar
depois à nuvem mais carregada
nenhuma o podia ajudar.
E assim passou tanto tempo
tecendo mil planos
em fios de algodão
que se desvaneciam
em nuvens no seu coração.
Todas as nuvens
da sua rua
foram à sua janela
escureceu, adormeceu
ficou a sonhar com ela.
E o mau tempo passou
o sol despontou
numa festa de cor
de manhã todas as flores
sabiam de cor
onde estava o seu amor."
"Pelas Nuvens" de Manuel Paulo
(interpretado por Graça Reis, no álbum Assobio da Cobra)