O mar não é todo igual. Nesta ilha embalada por um azul que clareia até se confundir com o céu, a paz desliza suavemente sobre o sal e cria uma espécie de manta, aquecida pelo sol, que veste o oceano.
É neste translúcido encontro, neste abraço ameno e delicado, que descubro o mais verdadeiro sentimento de comunhão. Aqui sou apenas alma, o peso do meu corpo é anulado à medida que relaxo e me entrego. Não há palavras nem pensamentos, não há passado nem futuro, é tudo sensorial, pele e água, respiração e maré.
Há um mágico despertar nesta entrega sem chão entre a terra e o céu. O mar não separa os corpos que nele habitam, o mar une todos os átomos que, através dele, se encontram.
Os degraus esculpidos na pedra negra abrem-me as portas ao oceano imenso. E é neste espaço em que o tempo se esquece de mim, que me entrego a este abraço e volto ao verbo inicial de toda a existência.
Não há praia com areia a mediar o encontro. Não há tempo para criar laços nem espaço para deixar crescer a confiança. Há pele que se mistura com o sal, no imediato segundo em que deixamos a terra e nos tornamos mar.
O mar não é todo igual. Este, o desta ilha, neste translúcido encontro, fez-me sua e permitiu que o chame meu.
Liliana Lima
