quarta-feira, fevereiro 23, 2022

Escolhas de Tijolos Amarelos

Não há um caminho certo. Por muito que, por muito tempo, me tenham tentado convencer que sim.

Como seria, então, a (minha) estrada dos tijolos amarelos? Uma linha mista, sem um único cruzamento, com toda a certeza. E só com um sentido, obviamente. É que a dita linha certa vai do ponto A ao ponto Z, não o contrário. Pois isso mudaria tudo, a ordem dos acontecimentos, tornando-a imediacta e irremediavelmente em errada. Poder-se-ia até admitir que se descubra o caminho mais à frente, tornando-o em mais ou menos pequenas semi-linhas mistas, por exemplo [C:Z] ou mesmo [Y:Z]. Afinal, foi prometido aos trabalhadores da última hora o mesmo do que aos que trabalharam desde a manhã.

Desbaralhando... 

Imaginem o trânsito na estrada dos tijolos amarelos se só houvesse um caminho certo e, fruto de grande infortúnio, esse fosse mesmo o meu. O que seria de cada vez que brilha no céu o arco mais colorido do mundo, de gente à procura dessa cor (que desde tão pequenina me ensinaram que era de mau gosto) para seguir até ao fim... e no fim será que encontrariam Oz?... Ou será apenas um metafórico erro meu?!...

Sem brincar...

Não há um caminho certo por oposição a milhares de outros, todos eles errados e condenados desde o início. Não é assim este mundo meio louco a chamamos casa funciona. Atrever-me-ia a concordar com o poeta e dizer mesmo que não há caminhos. Nem certos nem errados. Nem pré-desenhados.

Há escolhas, muitas mais do que pessoas. 

Tomamos decisões e fazemos centenas de escolhas a cada dia. Há escolhas que nos levam a criar um ou outro caminho, ou até a cair na tentação de achar que estamos a percorrer caminhos há muito navegados. E à medida que vamos escolhendo, acordar-dormir, arriscar-parar, enfurecer-acalmar, lutar-calar, sorrir-frazir-o-sobrolho, avançar-desistir, gritar-sussurrar, sonhar-apenas ser... estamos a fazer o nosso caminho único e especial, porque assim o somos também.

Claro que há escolhas erradas! Claro que há caminhos onde atolamos, onde nos  afogamos, caminhos que acabam em precipícios. E mesmo aí as escolhas não acabaram... Há mesmo caminhos onde só se chega depois de algumas escolhas duvidosas. E outros há que por muito certinhos que sejam os passos, um dia acabam mal. E sim, há caminhos que seria muito melhor não iniciar nunca.

Mas não estamos, então apenas a trocar a palavra caminho pela palavra escolha?...

Acredito que não. Acredito que temos o poder de escolher se andamos descalços, vamos a nadar ou viramos à esquerda ao fundo da rua. E essas escolhas encaminham-nos numa determinada direcção que, por si só raramente é taxativamente errada. 

Há milhares de milhares de escolhas que dão origem a outros tantos caminhos, começados, deixados a meio, percorridos com muito brio, ou sofrimento, cheios de rotundas e passagens de níveis, mudanças buscas e até mudanças repentinas de direcção. 

Às vezes brilha o arco-íris e por breves segundos podia jurar que a estrada amarela de tijolos reluzentes. Tantas vezes sento-me no meio do cruzamento sem saber para onde virar. Outras vezes volto para trás e não conheço de todo o caminho que (des)faço. E de quando em vez decido apenas parar.  


Não podemos esquecer que nem tudo depende de nós. 

Muito pouco depende de nós.

Mas cá estamos, eu escolhi neste momento escrever e tu... não sei quando nem porquê, mas fizeste deste momento duas linhas coincidentes. Não é bom nem mau. É simplesmente assim. 

Não há um caminho certo. Por muito que, por muito tempo, me tenham tentado convencer que sim.


Liliana Lima