Somos todos feitos da mesma matéria. Luz. Dia. Alegria. Noite. Dor. Inquietação.
Somos todos sentimento em bruto, que a vida há-de moldar.
Somos carentes, de amor, de felicidade, de aceitação.
Somos iguais, então, tu e eu, e eu e tu, e tu e tu.
Saberás, tu, o quanto dói, o tanto que fere, a ausência, o silêncio, o afastamento?
Somos todos sentimento, pela vida moldado, pelo tempo esculpido, pela experiência vivido.
Não somos iguais, então, eu, tu, tu e tu.
Cada um tem em si "todos os sonhos do mundo" *.
Do seu mundo.
Do filme que, noite após noite, vê espelhado nas costuras do sono.
Não somos iguais, então, tu e eu.
É possível que não saibas o quanto.
Não te apercebas do tanto.
Não consigas interpretar o silêncio.
És um entre biliões, em milhões, em dezenas, em três.
Ou seja, és único para mim. Como tu. E tu.
Ou seja, a ausência, nesta equação, ao ser multiplicada por um, é exponenciada ao infinito.
Ou seja, este sentimento único é "impossivelmente real" *.
Somos todos feitos da mesma matéria. Luz. Dia. Alegria. Noite. Dor. Inquietação.
Mais ou menos dobrados pela vida e quebrados à força do tempo.
Somos todos iguais, na essência.
E é lá que te procuro.
E é para lá que olho.
E é de lá que te digo que, sabendo, só podes não saber.
Com muito amor,
Mãe
*"Tabacaria" de Álvaro de Campos