E quando acordamos para o facto de estarmos a ser/fazer grande parte das coisas que tão convicta e repetidamente dissemos, noutras ocasiões e representando outras personagens, para os nossos amigos não fazerem...
Comunicar com o que, de um dia para o outro, parece ter-se transformado no "outro lado da barricada", não é fácil. E pouco se pode fazer para mudar. Resta-nos a esperança que o tempo, a seu tempo, lime as arestas e deixe correr o ar.
Do alto da minha alta janela, a vontade que sinto crescer dentro de mim, é de escrever pequenos papéis coloridos, enrolar cada frase e lançá-las ao vento. E não ter, tão cedo, que confrontar esse conflito latente que (ainda) não se pode amainar.
E o mais engraçado é que acredito mesmo que, pelo menos algumas das frases, chegariam, ao destino. Amachucadas claro, mas menos confusas e quem sabe menos sujas das interpretações e subjectividades de cada um, tanto emissor como receptor.
Sei também que te tiraria a responsabilidade de acartar com o peso que cada recado acarreta. E te tiraria do meio deste diálogo mudo, onde o teu e os vossos personagens devem ser o mais omissos possível.
Não te aceno com uma perfeição que sei não conseguir encontrar dentro de mim. Mas prometo que tentarei arranjar a forma certa, ou pelo menos a mais eficaz, de comunicar com "esse lado" que durante tantos anos foi também o "meu" lado. E que, por acaso do destino, hoje é onde tu estás.
Se acaso algum dia me esquecer e tentar, fugindo ao confronto, entregar-te correspondência alheia, devolve sem medos ou hesitações, ao remetente. E lembra-me o que te contei: "as palavras estão gastas"(*).
Com muito amor,
Mãe
(*) "Adeus"
de Eugénio de Andrade
In Poesia e Prosa
Comunicar com o que, de um dia para o outro, parece ter-se transformado no "outro lado da barricada", não é fácil. E pouco se pode fazer para mudar. Resta-nos a esperança que o tempo, a seu tempo, lime as arestas e deixe correr o ar.
Do alto da minha alta janela, a vontade que sinto crescer dentro de mim, é de escrever pequenos papéis coloridos, enrolar cada frase e lançá-las ao vento. E não ter, tão cedo, que confrontar esse conflito latente que (ainda) não se pode amainar.
E o mais engraçado é que acredito mesmo que, pelo menos algumas das frases, chegariam, ao destino. Amachucadas claro, mas menos confusas e quem sabe menos sujas das interpretações e subjectividades de cada um, tanto emissor como receptor.
Sei também que te tiraria a responsabilidade de acartar com o peso que cada recado acarreta. E te tiraria do meio deste diálogo mudo, onde o teu e os vossos personagens devem ser o mais omissos possível.
Não te aceno com uma perfeição que sei não conseguir encontrar dentro de mim. Mas prometo que tentarei arranjar a forma certa, ou pelo menos a mais eficaz, de comunicar com "esse lado" que durante tantos anos foi também o "meu" lado. E que, por acaso do destino, hoje é onde tu estás.
Se acaso algum dia me esquecer e tentar, fugindo ao confronto, entregar-te correspondência alheia, devolve sem medos ou hesitações, ao remetente. E lembra-me o que te contei: "as palavras estão gastas"(*).
Com muito amor,
Mãe
(*) "Adeus"
de Eugénio de Andrade
In Poesia e Prosa