Sei-vos meus, sabendo-vos de tantos outros. De muitas maneiras e de inúmeras intensidades.
Mas como meus que são, foram e serão, tenho a certeza que o são no singular.
Sei que o amor não se mede em dias, e que o tempo tudo esclarece (a não ser quando piora e teima em transformar aguaceiros em tempestades).
Mas há dias em que o tempo parece rarear e o amor decide chegar atrasado.
Sei dos manuais, dos conselhos e do senso-comum que tem sempre mais de comum do que de senso. E prefiro os académicos aos que nunca se escusam de dar, conselhos.
Mas aqui, no dia-a-dia, na realidade nua e crua, e bruta (como o é igualmente a verdade), a vontade nem sempre parece querer seguir as técnicas comprovadas há anos de terapias e análises.
Sei da mágoa, da raiva escondida por baixo da roupa suja, que salta mesmo antes de abrirmos o cesto, pese embora o número incontável de vezes que a tapámos e escondemos debaixo das meias e dos calções de ginástica. E sei o quanto nos arrependemos por não poder arrepiar caminho depois de lançadas as palavras ao vento.
Mas, dizem, quem não sente não é filho de boa gente e nem sempre conseguimos calar o que cá dentro tanto grita.
Sei do caminho e dos anos e das histórias, que nos fazem ser quem, e como, somos. E sei que não sou só eu a sabê-lo.
Mas "por vezes num segundo se evolam tantos anos"(*)...
Com muito amor,
Mãe
(*) David Mourão Ferreira
in "E por vezes"