sexta-feira, setembro 28, 2018

TEMpo

Meto a mão na mala à procura dos minutos que tinha (tenho quase a certeza) guardado para te oferecer. 

Este caos que vive comigo teima em se instalar por entre as chaves que não abrem a porta de casa, os lápis e os batôns meio-secos de tão pouco os usar, os cadernos pretos pequeninos sempre prontos para me deixar escrever as palavras que pedem para ser contadas, e os lenços e as toalhitas e o desodorizante e o leque florido e os cartões e... as chaves que nem a porta de casa abrem.
Encontro tudo, menos o tempo que queria para nós...

Tiro a agenda e peço-lhe, baixinho, que me deixe falar aos dias, contar às horas, pedir ao tempo que se aquiete e nos abra o espaço para sermos nós (não tu e eu, mas nós).
Nunca estou certa das suas respostas, conheço bem o seu mau-feitio e inconstância. Mas, pelo sim pelo não, espreito por sobre os sábados e procuro dentro das quartas-feiras e... às vezes dou por mim num dia-sim, outras encontro apenas nãos.

Mas, entre cada nascer e pôr-do-Sol, vou guardando carinhosamente na minha mala, todos os momentos que consigo libertar para juntar ao nosso tempo (não meu e teu, mas nosso).

Meto a mão no cesto, debroado a azul que trago hoje a consizer com a saia comprida e a blusa branca. Podia jurar que lá dentro pelo menos umas horas estavam guardadas para nós. 
Mas o caos que teima em viver comigo diz-me que hoje não é o dia certo.

Suspiro e olho em frente com a certeza de que, mais dia menos noite, vamos encontrar O nosso tempo.

Liliana Lima