sexta-feira, setembro 21, 2018

grito MUDO

Há um desespero, tão fundo, tão profundo, que desaba em mim sem pedir licença
Há uma porta que se abre à minha frente, por muito que tente virar numa rua qualquer, longe da minha
Há um vazio que, de repente, preenche os dias cobrindo o rio e a ponte e toda a cidade  
Há uma solidão tão antiga que canta uma cantiga que não consigo abafar
Há uma inquietação que me fere o peito e se instala sem me deixar respirar

E há um grito dado no alto do mais longo silêncio 
E há uma mão que não deixo acenar
E há uma máscara pintada no espelho

E há um mar a pedir para nascer
E um enjoo pouco nítido no olhar
E há uma palavra que quer ser dita
E uma força que me faz calar

Há desespero e vazio e solidão
E tu, sem me saberes ouvir no barulho da distância
Há máscaras e silêncio onde grito
E tu, sem me conseguires ver no nevoeiro da manhã

E aquela inquietação que tudo turva
E não se diz, e não se vê
que só se canta

Há um silêncio onde grito tudo o que não te digo
E a minha mão, que procuro, para me aquietar


Liliana Lima