sábado, junho 16, 2018

c.ASA

A casa da minha avó tem uma arca de Noé, recheada com animais de cristal  (daquele que se parte se, nos dias maus, nos apertar o coração).

A casa da minha avó tem a cama para onde eu trepava enquanto repetia, inconsequentemente, a melodia repetitiva da tabuada (sempre seguida do ralhete por a letra não rimar com a conta).

A casa da minha avó tem os dias bons, com os pratos da sala devidamente espalhados na mesa de jantar, desta vez para almoçar.

A casa da minha avó tem as memórias trazidas da frente do Tejo directamente para as molduras espalhadas um pouco por todo o lado.

A casa da minha avó tem uma menina cheia de sonhos, que escrevia com muitos erros e fazia os acentos ao contrário (devidamente vestidos de flores coloridas), para desespero da professora que, sempre zangada, ia tentando desencorajar a escrita, as flores, as cores.... 
Mas nada disso importava , porque logo a seguir às aulas a menina voltava... para casa da minha avó!

Liliana Lima