A casa da minha avó tem uma arca de Noé, recheada com animais de cristal (daquele que se parte se, nos dias maus, nos apertar o coração).
A casa da minha avó tem a cama para onde eu trepava enquanto repetia, inconsequentemente, a melodia repetitiva da tabuada (sempre seguida do ralhete por a letra não rimar com a conta).
A casa da minha avó tem os dias bons, com os pratos da sala devidamente espalhados na mesa de jantar, desta vez para almoçar.
A casa da minha avó tem as memórias trazidas da frente do Tejo directamente para as molduras espalhadas um pouco por todo o lado.
A casa da minha avó tem uma menina cheia de sonhos, que escrevia com muitos erros e fazia os acentos ao contrário (devidamente vestidos de flores coloridas), para desespero da professora que, sempre zangada, ia tentando desencorajar a escrita, as flores, as cores....
Mas nada disso importava , porque logo a seguir às aulas a menina voltava... para casa da minha avó!Liliana Lima