Uma carta passada por entre as mesas da sala de aula
Um postal deixado na secretária
Um ramo de rosas vermelhas entregues à porta...
Mas nunca um poema de amor
Eu já escrevi algo parecido com poemas de amor
Aliás, quase tudo o que escrevo é um poema de amor
se o souberes ler, entenderás que o é, meu amor
É que a palavra AMOR não se diz na correria das horas
É feita dum cristal tão fino como o teu olhar,
quando me olhas de perto, quase de dentro
A palavra AMOR, meu amor, é feita de muitas histórias
que se contam em todas as ruas e em todos os fados
e embora se pareçam iguais, são únicas e irrepetíveis
Nunca me escreveram um poema de amor
E agora que penso nisso, nem sei o que faria para o agarrar
É que o poema tem em si a força de todas as marés
que se elevam nos oceanos ou se estendem na areia
E o peso absurdo de todos os luares
que beijam a Terra e iluminam cada história
E a palavra, quando cantada, como poema,
torna-se fogo ou ventania, medo ou alegria
Nunca me escreveram poemas de amor
Nunca me disseram AMOR, assim com todas as letras
e por escrito, que tem sempre uma força maior do que o dito
Se um dia me escreveres um poema de amor, meu amor,
que seja alegre e suave, doce e leve
se diga, "cantando a toda a gente"
e se espalhe pelo mundo, assim, num vôo livre de andorinha
que abraça o céu azul e nele escreve, dançando
leve e inquieta, a nossa canção, AMOR
Liliana Lima
Baragem do Alvor, Igrejinha, Arraiolos