sexta-feira, agosto 25, 2017

SEGUndos

Vejo
tudo centésimos de segundos antes de acontecer
E saio
de dentro de mim para me defender
Mas fico
imóvel, parada num tempo que não quero ver
Retiro
tudo de mim para fora da cena
E olho
para dentro dela, de fora, como num teatro de marionetas
Fecho
os sentimentos e as emoções no local mais escondido em mim, congelada na peça
E olho
para dentro dela, de fora, o mais friamente que consigo
Gravo
toda a acção de todos os actos que se seguirem
E revivo tudo
já de fora, segundos, minutos, semanas às vezes, depois da peça sair de cena

E sinto
todas as emoções numa espiral que mais ninguém vê
E demoro
muito tempo a encontrar a saída para dentro de mim
E desisto
de explicar esta complexa trama que bordo em torno de mim

Assusto-me
quando deixo escapar os milésimos de segundo de segurança
E não consigo sair
de mim, e deixar de sentir, e virar as costas, e defender-me a tempo
E então absorvo
todo o guião como barro girando que se vai moldando pelas mãos do artesão
E então salto
para outros filmes qual Alice caindo noutra dimensão
E então não controlo
a realidade que vivo, porque no palco um labirinto de espelhos faz-me perder de mim
E então assusto-me
com esta montagem desordenada que, tantas vezes, ultrapassa o que, na verdade, se passa nesses milésimos de segundo
Vivo
todas as cenas de uma só vez
Re.ajo
de acordo com o tamanho dos moinhos que rodam dentro de mim

E sinto
todas as emoções numa espiral que mais ninguém vê
E demoro
muito tempo a encontrar a saída para dentro de mim
E desisto
de explicar esta complexa trama que bordo em torno de mim


Liliana Lima