Chegas, e a inquiétude da espera foge para o lado errado
abre-se em mim um rio que me atira para a outra nargem
me afasta de ti à força da maré cheia
As flores que outrora trazia com um sorriso
fecham-se no fundo da mala
embrulhadas na insegurança de quem acaba de sentir
partir a espontâneadade no voo duma gaivota
Há o sol, há o rio (sempre o rio) e há nós dois
num tu e eu separados de braço dado
Caio num abismo interno onde me sento em frente ao espelho
e luto comigo mesma como num jogo de computador
A saudade, a vontade, a tranquilidade
a afundarem-se no meu mar
e um silêncio estéril que esconde
a inquietação, a insegurança e a zanga
que enchem o espaço com a maré que enche
Não gosto de silêncio, nunca gostei
tiram-me as palavras e perco o norte
Sempre me assustou esse abismo de possibilidades
que nascem do silêncio de outra pessoa
Mas este silêncio é meu
sou eu que o digo quando ao pé de ti
Quando chegas a inquiétude da espera foge para o lado errado
Abro a Caixa de Pandora e deixo sair o vazio
que tu, do teu lado do rio tentas encher e preencher
E por isso usas muitas palavras e dizes muitas coisas
talvez porque sabes que não gosto de silêncio
talvez porque te entreténs saltando entre conversas
talvez apenas para passar o tempo
E eu, da margem do meu rio,
vejo-te longe, muito longe,
num barco que zarpou sem mim
e ao qual não consigo chegar
Não fales
Não, se falares sem dizer nada
Não, se for sobre tudo menos o que nos diz respeito
Não me digas a mesma coisa repetidamente
Não, se essa coisa não nos está ligada
Não tenhas, tu agora, medo do meu vazio
Preciso de espaço para lidar com as minhas inquietações
e preciso de ti para diminuir o caudal do rio que nos separa
Liliana Lima