Aperto o relógio na palma da mão, os minutos demoram horas a passar e a noite avança sem esperar por mim
Espero
Espero dias que parecem infinitos, por entre os destroços das batalhas que travo entre o que quero e o que gostava de querer
Guardo dentro de mim o pó das lágrimas secas à força do vento que eu própria sopro para enfonar as velas de cada partida
Abraço as certezas, ainda que efémeras, ainda que trémulas e sorrio para os ponteiros na esperança de os ver dançar com um tempo que teima em não se encontrar com o meu
Espero
Espero noites e noites, despida de ilusões, deitada numa cama de rede que baloiça entre o que sou e o que não quero ser
Procuro dentro da redoma em que me escondo do tempo a chave para dar corda ao relógio de pé que me olha, imóvel, num canto da sala
Sento-me à beira-rio com as inquietações o mais aquietadas possível e recorto pequenas luas onde desenho números romanos
Peço ao lado de mim que tenta abafar o outro, que me deixe soltar os ponteiros
Aperto o relógio na palma da mão
E espero