Despes-me pétala a pétala, deitando o caule sobre as planícies douradas no final de mais um dia de Verão.
Tapo-me com as espigas que ondulam ao passar da tua aragem. Aqui e ali as papoilas nascem e pintalgam o horizonte de vermelho. São o meu desejo que desponta nas curvas recortadas pelos acobreados que inundam o céu.
Ao fundo o teu vento entra por entre as searas e ceifa os campos, deixando um sulco de terra húmida que rasga os caminhos e penetra nos vales.
As papoilas soltam as pétalas vermelhas que esvoaçam e dançam com o vento que arrepia as searas desnudadas ao luar.
Sou caule e planície, e espero-te em cada espiga para aprisionar o teu vento, atrasar a ceifa e te fazer terra onde, semeada por ti, renasço.
O fim do dia agita os pássaros que voam em círculos e enchem o espaço com o seu chilrear. É nesse voo que, depois do Sol se esconder por completo e a Lua olhar o ondular dos campos húmidos e despenteados, nos encontramos, finalmente.
Com muito cuidado apanho as pétalas que espalhaste e entrego-te as espigas em que me deitei.
A Lua sorri enquanto todo o Alentejo adormece no silêncio prateado do nosso acordar.
Liliana Lima