A força com que embate a água nas rochas, ao fundo,
eleva um remoinho de espuma que se dispersa com o vento
e me molha a folha e borra as palavras que se desfazem,
como a onda que empurra e varre a areia para cima da estrada
Pego na folha e tento secar as letras que te escrevi
um borrão de tinta azul que tudo mistura e transfigura,
gritando com o mar que hoje não é o dia de escrever para ti
A sala é envolvida pela onda que tudo submerge e conserva em sal,
a folha, o borrão, eu, as letras, as palavras ,e o tu para quem escrevia
olhando-me de lado e segredando no meio das águas, "não estou aqui"
A maré vaza e deixa para trás os despojos espalhados na sala
de quem escrevia, do que escrevia e para quem escrevia
A areia continua espalhada na estrada
olho-a da janela e vejo as palavras que se diluíram
desenhando ao mundo o que, afinal, te podia escrever
Liliana